Wednesday, February 07, 2007

Contra a minha geração

Coincidentemente, os dois últimos romances que li, Irmãos Karamázov, de Dostoyevsky; e O Apanhador no Campo de Centeio, de Salinger, têm como personagens principais dois jovens, recém saídos da adolescência. Mas há, talvez, uma única semelhança entre eles: ambos são privilegiados socialmente; e que me perdoem os regionalistas brasileiros, que se deleitam com miséria, mas gente abastada é muito mais interessante. Apesar de estarem na mesma faixa etária, Aliocha Karamázov e Holden Caulfield estão em lados opostos na moeda da vida. E isto não tem nada a ver com suas culturas completamente distintas. São diferentes, porque são.

O russo é o filho que todo pai quer ter, religioso (talvez até demais), cortês, sábio, pessoa na qual se podia confiar e receber conselhos com tranqüilidade. Representa a contra-mão da juventude culta da Rússia czarista do século XIX, já que não se deixava dominar pelo positivismo importado da Europa.

O menino americano é diametralmente oposto. Caulfield é o reflexo da geração transviada que estava para nascer. Irresponsável, dizendo-se ateu (sem, obviamente, sê-lo), péssimo aluno, mudava de escola como mudava de roupas. Um livre pensador em um tempo abundante de livres pensadores, daí sua irresponsabilidade ante a vida, porém, em contraponto, extremamente amoroso.

Sinto-me como um amalgama destes dois, o Aliocha responsável e o Holden faceiro. Assim como eles sozinhos se perdem, juntos se contrabalançam e sua junção representa a juventude plena. Como os dois, sinto estar caminhando em direção a algo. A questão atual é que jovens caminhando em direção a algo se tornou “animal em extinção”.

A juventude de minha geração não parece estar caminhando para lugar algum. As referencias, as tendências, as percepções juvenis atualmente são nulas.

Ao contrário de 30, 40 anos atrás, onde podíamos ver jovens lutando por alguma coisa. Sem me ater ao caráter da luta, nem o prêmio pelo qual estavam lutando, o fato é que lutavam por algo. Isto, hoje, é apenas história.

Hoje não se pensa mais em questões relevantes, porque não se pensa em mais nada. Quem é rico se esbalda em festas psy-trance (sic). Quem é pobre, em bailes funk. Apesar de que sempre há um swing nestas questões, não é difícil ver um filhinho de papai no morro, muito menos um pobretão em meio à nuvem de camisas de marca e pílulas de ecstase das festas eletrônicas.

O que eu tenho contra festas? Nada! Tenho, sim, tudo contra a formação de uma geração de completos imbecis. Os anos 80 tinham a geração Coca-Cola; os 90, a geração MTV; e os anos 2000 criaram a Geração Nada. Ganhamos em mediocridade e passividade, salvo raras exceções (digo isto, porque sempre há exceções). Embebedados por Internet, viciados por personagens de novelas mexicanas (sobre isto, me recuso a comentar), caminha-se a passos largos em direção a falência total.

Um remédio contra a alienação em massa, eu não tenho. Mas pode ser um bom começo tentar conhecer Aliocha Karamázov e Holden Caulfield

6 Comments:

Anonymous Anonymous said...

"Nossa geração não lamentará tanto as ações dos maus, quanto a passividade dos bons."
Martin Luter King Jr.

- O importante não é se movimentar muito, mas sim na direção correta.

10:40 AM  
Anonymous Anonymous said...

Aliócha eu tenho certeza q vale a pena conhecer.
Quanto ao seu comentário infeliz de q gente abastada é muito mais interessante, devo discordar totalmente. Até pq em "Crime e Castigo" o herói (ou anti-herói, fica a critério de quem ler) não possui essas vantagens pecuniárias ou sociais - segundo alguém q não me lembro (talvez o Paulo Francis), q vc mencionou numa discussão nossa , essa não é a obra-prima do Dosta?
Enfim. Mas a nossa geração é isso aí mesmo. Geração do NADA. Todo mundo anestesiado com videozinhos do youtube e clipes de rappers emergentes.
Bom artigo! You go, boy! :)

4:25 PM  
Blogger rodrigocherene said...

"Existem pessoas tão sumamente pobres que só têm dinheiro"

Rodrigo Cherene

7:18 AM  
Anonymous Anonymous said...

Minha turma da FGV celebrou o "trote" ao redor do cadáver de uma jovem suicida de vinte e poucos anos, que, trajando apenas roupas íntimas, se jogou do 11º andar do prédio em frente, caindo a centímetros de distância de alguns de meus "colegas". O corpo permaneceu no local por mais de 5 horas, aguardando a perícia, enquanto o trote continuou "bombando", então regado de novas piadas, como "Nossa! Está chuvendo mulher no trote da FGV!" e outras coisas do tipo...

Como já disse Anders Fridén, estamos vivendo a Era da Indiferença. ;)

2:40 PM  
Blogger Le grand saboteur said...

Carlitos,

é a condição pós-moderna. Derrubaram-se os velhos paradigmas. Depois dá uma olhada lá no meu blog também...tem pouca coisa ainda...

Abraços saudosos,

Diego Fagundes

3:13 PM  
Blogger Le grand saboteur said...

aliás, o Apanhador foi um divisor de águas na minha vida...à época que li pela 1a vez (já li algumas vezes, no original tbm), me identifiquei mto com Caufield...bom que você o tenha lido...

abs.

3:15 PM  

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