Wednesday, February 14, 2007

O Rio nosso de cada dia...

Antes de qualquer palavra, declaro, sou saudosista sim, admito. Houve um tempo em que o Haiti não era aqui. Em que se falava mais de Ipanema e Copacabana do que de Vila Joanita e Morro do Barbante. Em que se preferia cantar “Minha alma canta, vejo o Rio de Janeiro” do que “Alô, Rio de Janeiro - aquele abraço!”

Enquanto o Cristo Redentor concorre com outros monumentos para ser umas das 7 maravilhas modernas da humanidade, a população à sua volta permanece rendida. É o Cristo de braços abertos, o povo de mãos ao alto e gente como eu, comentando tudo isso.

Na década de 80, Nova Iorque era o Rio de Janeiro do primeiro mundo, ou seja, uma cidade charmosa e cultuada que se encontrava sitiada pela bandidagem em geral. A diferença de NY de ontem e o RJ de hoje é que eles tinham Rudy Giuliani literalmente colocando os criminosos contra a parede com políticas de segurança consistentes e compromissadas em exterminar o crime, enquanto nós não temos nada nem ninguém.

São anos a fio sendo governados por uma farranchada descompromissada com qualquer política séria de qualquer natureza, muito menos de segurança. Vamos ver se agora o menino Cabral consegue começar a dar um basta à questão da violência na cidade do Rio de Janeiro. A polícia e os políticos do estado não têm moral alguma nas comunidades onde o crime se desenvolve. Basta lembrar que a bandidagem criou uma espécie de “poder paralelo”, onde os criminosos suprem algumas necessidades do povo. No estado do Rio, até os criminosos são populistas!

Onda já se viu? O Comando Vermelho tem suas origens na prisão da Ilha Grande, onde bandidos comuns foram catequizados por presos políticos na época da ditadura militar. Após a redemocratização, os mesmos presos políticos foram levados para os palácios de governo enquanto seus colegas de cela voltaram para as comunidades doutrinados em Marx, Lênin e Stalin.

O Rio hoje é uma gigantesca Gulag. Gulags são aqueles campos de concentração usados por Stalin durante seu período de governo, onde cerca de 10 milhões de pessoas foram exterminadas. É o Rio sitiado. A classe média à mercê da violência, os ricos acuados em seus carros blindados e condomínios de segurança máxima, enquanto os que moram nas comunidades carentes estão entre o chumbo trocado pelas milícias urbanas, traficantes e policiais.

Mas afinal de contas, o que diferencia o Rio das outras metrópoles nacionais? É privilégio do carioca viver com a arma apontada para a cabeça? Sem dúvida compartilhamos este privilégio com São Paulo, Recife, Salvador; enfim com toda e qualquer cidade onde há mais de um milhão de almas. A endemia da violência não é regional. O problema é nacional, são as condições do país que possibilitam que a onda de violência varra a sociedade como tem varrido. Depredaram a educação nacional. Sucatearam a saúde nacional. A desigualdade da renda é um fato nacional. E violência, entre outras coisas, é uma cruel conseqüência.

A grande diferença do Rio para as outras cidades é que no Rio a violência mora ao lado banqueiro, do mega empresário, do doutor em geral. O músico popular uma vez cantou: “É muito fácil falar de coisas tão belas, de frente pro mar, mas de costas pra favela.” É a pura verdade. O Rio choca porque a violência atinge diretamente o dono do poder. Somos tão hipócritas que nos causa maior dor um corpo vestindo camisa pólo cravado de balas do que um desconhecido sem camisa, sem nome, sem sapato ensangüentado no asfalto.

Temos, todos nossa parcela de culpa. Abraços coletivos na Lagoa Rodrigo de Freitas não resolvem o problema; gente de branco desfilando na Vieira Souto não resolve o problema; entupir complexos prisionais com ladrões de galinha também não resolve o problema. Mudança de mente resolve. Falta ao brasileiro enxergar o problema da maneira correta. É deixar de viver em uma sociedade de castas em que o egocentrismo é ponto crucial da vida em sociedade, e passar ver o outro como seu co-participante na peça urbana. É tomar consciência de que pobre e ricos, apesar de estarem em acomodações diferentes, estão no mesmo barco, portanto sendo a tragédia o final da historia, o fundo do mar que os aguarda é o mesmo para todos.

Por quantos Joões Hélios teremos que chorar? Quantos de nossos meninos terão que ser brutalmente massacrados para que venhamos a tomar atitudes que mudem a nossa história? Dependendo de quem você vota, seu voto pode salvar uma vida. O tamanho de sua consciência política é diretamente proporcional à diminuição da violência sim! Faça com que seu político trabalhe por você e não você por ele. A arma contra a violência está no seu dedo ao votar e em sua garganta ao bradar por justiça de fato!

2 Comments:

Blogger Le grand saboteur said...

Além de todos os problemas citados no texto, para mim o mais significativo deles é esse discurso oficial da segurança pública, estampada na capa da veja, que prega o aumento das penas e a redução da maioridade...qualquer um que estude alguma coisa de criminologia sabe que isso não vai resolver nada e só vai piorar as coisas...é uma hipocrisia atrás da outra...

abs.

Diego

5:04 PM  
Blogger Carlos Magalhães said...

Uma hipocrisia atrás da outra é o que vivemos desde o Dia do Fico, estrelado por D. Pedro I no séc XIX.
A Bíblia fala: um abismo gerando outro abismo.

É uma pena...

5:47 PM  

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