Wednesday, February 21, 2007

Brasil: o maior espetáculo da Terra

Passei os últimos dias literalmente ilhado. Estou no Leblon, e para quem não sabe, o Leblon é cercado de águas: canal do jardim de Alah, canal da Visconde de Albuquerque, Lago Rodrigo de Freitas e é claro, o Oceano Atlântico. Já que sou um pária no Reino de Momo, encontrei refúgio aqui.

Nesta semana ninguém quis saber de violência, de ministérios usados como moeda de troca, de crise do setor aéreo, muito menos da panacéia que é o governo federal. Então, só me resta falar do que todo mundo quer ouvir: carnaval.

Durante este tempo, a silhueta da Grazy, se esfregando contra os olhares do mundo, é muito mais importante do que qualquer outro assunto que se possa imaginar. Seca no Nordeste? Excesso de chuvas no Sudeste? Quem se importa? Contanto que caia confetes e serpentina esta semana, tudo bem.

Chico Buarque em uma canção sobre o carnaval fala: “amanhã tudo volta ao normal”, referindo-se à quarta feira de cinzas. Mas o que é normal por aqui? No Brasil, o normal é o carnaval, onde ninguém é de ninguém e tudo é de todo mundo. Nestes dias, o país se despe de todas as falsas pretensões de ser uma nação de verdade e mostra para que veio. Estamos no mundo a passeio. O calendário emocional do inconsciente brasileiro não é outro a não ser: uma semana de folia e um ano de cinzas.

Em terra de abada, quem usa terno é vagabundo e quem trabalha é pobre, mas muito pobre mesmo porque trabalho no carnaval é só para quem é ruim da cabeça ou doente do pé. Para uma nação tão abastada como a nossa, o que é uma semaninha de folia, não é mesmo? Trabalho é coisa para Suécia, China, Estados Unidos. Duvido se lá não teria um baita carnaval se eles também tivessem as nossas mulatas, as nossas praias e a nossa condescendência para com a canalhisse que nos rodeia.

Aumento do uso de drogas? Adolescentes grávidas pipocando em casas de família? Borbulhar de DST? Aumento de assaltos, assassinatos, condutores embriagados, estupros? Quem quer ouvir isso? Quando a poeira da festa abaixa coloquemos estas seqüelas “momescas” em baixo do mesmo tapete em que colocamos a falta de vergonha na cara dos políticos e a ignorância do povo. Uma salva de palmas! Pois na Favela Brasil, o que não falta em nossos barracos é um grande e acolhedor carpete.

Hoje é quarta feira de cinzas: feliz ano novo! 2007 começa aqui, mas já tem prazo para acabar, não se preocupe. E desfaça essa cara de cinzas, afinal de contas, o carnaval fora de época ‘tá aí, para que tudo sempre volte ao normal.

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